Estamos no ultimo mês de um ano que mudou o Brasil. As jornadas de junho revelaram a todos a crise de representação política e provaram com marchas multitudinárias que a população brasileira, em especial sua juventude, tem condições de tomar o caminho das ruas para defender seus interesses. Depois de junho as greves dos trabalhadores e os protestos populares deixaram claro que nada mais será como antes e que não serão apenas os jovens a entrar na luta.
Neste cenário, o acerto de ter fundado o PSOL nos enche de orgulho. Nunca ficou tão evidente que é preciso um novo partido contra a velha política. Quando estive nas ruas, lado a lado com nossa juventude, nos protestos de junho, sabia que era ali que poderíamos provar a utilidade de nosso projeto, a necessidade de realmente construir uma alternativa combativa. No ano que logo começa, vamos ter a continuidade da luta nas ruas e também nas urnas. Esta deve ser a responsabilidade de nosso partido. E de minha parte estarei empenhada nos dois combates.
Para defender que o PSOL se postule como defensor das bandeiras de junho e seja fiel a este acontecimento histórico, aceitei disputar a indicação como candidata à presidente pelo partido. Foram alguns meses de disputa interna onde os militantes que apoiaram minha pré-candidatura atuaram com energia na fiscalização e na construção de plenárias de norte a sul do Brasil. Quero aqui deixar o meu abraço e agradecimento a cada um deles. Fruto deste trabalho militante foi realizado um ato no Rio de Janeiro com centenas de militantes e contamos com o apoio de várias lideranças, em especial de Marcelo Freixo, principal referência do PSOL. Por muito pouco não se chegou ao resultado que permitiria que a militância debatesse mais, isto é, as prévias. Com mais democracia, tenho confiança que teríamos ainda mais força. Mas o Congresso escolheu o nome de Randolfe Rodrigues. Este resultado não me desanima nem um pouco. Sigo firme na defesa de um PSOL fiel a seu programa fundacional e às jornadas de junho. Continuarei também ativa na vida interna do partido e na disputa de seus rumos.
Mas o 4º Congresso Nacional do PSOL revelou um partido profundamente dividido. Além de denúncias de irregularidades na eleição de alguns delegados apoiadores da tese Unidade Socialista, a demonstração numérica desta divisão apareceu na votação da proposta de prévias para escolha da candidatura presidencial: 201 votos contra e 186 a favor. Mesmo com esta margem muito reduzida o agrupamento do Senador Randolfe Rodrigues não aceitou submeter o nome dele ao crivo dos militantes. Na votação da candidatura presidencial, mais uma vez quase metade do plenário, composto por delegados do Bloco de Esquerda, rejeitaram Randolfe, sendo que cerca de 30% apoiaram o meu nome e os demais se abstiveram em protesto contra as irregularidades. Diante desta realidade é preciso fazer um breve balanço e traçar as perspectivas.
Em primeiro lugar é preciso registrar que o apelo por mais democracia interna, feito pelo deputados Chico Alencar e Marcelo Freixo que defenderam as prévias, foi rejeitado pelo grupo de Randolfe e Ivan Valente, a tese Unidade Socialista. Isto é lamentável pois o nome de Randolfe não foi devidamente discutido pela militância, pois os apoiadores da Unidade Socialista não defendiam abertamente a candidatura de Randolfe, mas a colocavam como uma hipótese ao lado do nome de Chico, Freixo e até Milton Temer. Diferenças abissais separam os quatro nomes, portanto os delegados eleitos pela tese Unidade Socialista não estavam mandatados pela sua base para votar em Randolfe. As prévias poderiam suprir esta lacuna democrática, curar as feridas abertas pelas suspeitas de irregularidades e aprofundar o debate político. Por que o medo da democracia?
Outro aspecto importante do balanço é que o Bloco de Esquerda não conseguiu se unificar em torno de uma candidatura alternativa a Randolfe. Meu nome foi apoiado pelo MES, CST, TLS, LSR, o Coletivo Primeiro de Maio, outros agrupamentos regionais, e também por lideranças como os deputados Marcelo Freixo, Carlos Giannazi e Jean Wyllys. Mesmo assim uma parte do Bloco não quis me apoiar. Esta falta de unidade nos enfraqueceu na disputa, e acabamos perdendo o Congresso por uma margem reduzidíssima de 2%.
Mesmo assim considero que o Bloco de Esquerda é uma conquista importante da qual não podemos abrir mão. Após as jornadas de junho tornou-se ainda mais importante disputar os rumos do PSOL, lutar por um partido conectado com a nova realidade do Brasil, rejeitando a partidocracia e a velha política que insistem em nos rodear.
É preciso então avaliar como seguir. É certo que a disputa pela candidatura presidencial não se encerra no Congresso, pois até as convenções partidárias — que pela lei eleitoral acontecem em junho do ano que vem — ninguém é candidato oficialmente. Randolfe é o pré candidato escolhido por maioria pelo Congresso, mas meu nome segue colocado e poderá ser avaliado pela convenção do ano que vem. Luiz Araújo, o novo presidente do PSOL, falou em sua intervenção no Congresso que desejava que eu fosse candidata a Vice-Presidente na chapa com Randolfe. Não descarto esta hipótese, pois não concordo com a decisão de alguns de boicotar a campanha presidencial do PSOL se o candidato for Randolfe. Exceto para quem deseja sair do PSOL, o único caminho é seguir disputando os rumos do partido. Para isto não podemos ter uma postura abstencionista nas eleições, e muito menos apoiar o candidato de outro partido.
Não decidirei se aceito ou não esta tarefa de ser vice de Randolfe de forma individual. Quem me conhece sabe que não tenho problema algum em não ser candidata a nada. Encaro a política como militância e não como carreira.
Por isso quero ouvir em primeiro lugar @s militantes do PSOL e as lideranças das correntes que me apoiaram. Quero ouvir o partido no Rio de janeiro, particularmente Marcelo Freixo, nossa maior liderança, o deputado Jean Wyllys, os vereadores Eliomar Coelho, Paulo Eduardo e Renatinho. Em São Paulo quero ouvir o deputado Giannazi, o ex-deputado Raul Marcelo, o companheiro Vladimir Safatle. Quero ouvir outras lideranças, como a vereadora Toinha, de Fortaleza, e os grupos regionais que me apoiaram, como o ELA de Brasília e os companheiros do Paraná. Quero ouvir inclusive as lideranças que não são do Bloco, como o deputado Chico Alencar, e também as correntes do Bloco que não me apoiaram mas rejeitam Randolfe, pois respeito a sua militância e acredito que temos que seguir caminhando juntos no PSOL.
Quero avaliar com todos e todas qual o melhor caminho para que o PSOL possa estar unido na campanha de 2014 para enfrentar as candidaturas à serviço dos interesses do capital, e para que possamos seguir afirmando o perfil de partido que queremos construir: profundamente conectado com as lutas da juventude, dos trabalhadores, das mulheres, negros, homossexuais, indígenas, enfim, um partido fiel ao levante de junho e que apresente um projeto universalizante para todas esta lutas, um projeto socialista e libertário.
Luciana