Frederico Henriques*
Hoje, dia 6 de Maio de 2014, aconteceu mais um triste episódio na luta pela reforma agrária no Brasil. Dois companheiros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Chacal1 e Civan2, foram assassinados após um ato bem sucedido na rodovia no entorno de Apodi.
A chapada do Apodi é uma das áreas com o solo mais rico
do nosso Estado, que sempre sofreu com os grandes períodos de estiagem.
Apesar das dificuldades do clima adverso, assentamentos e importantes
experiências agroecológicas vinham sendo desenvolvidas em toda esta
região. A partir de uma iniciativa do Ministério da Integração Nacional
e do Sr. Deputado Henrique Alves o governo federal propôs uma
iniciativa de irrigação, conhecido como o Perímetro Irrigado da Chapada
do Apodi. Longe de beneficiar as milhares de famílias Sem Terra no
Estado ou os projetos vigentes, a água que passará por toda a Chapada
não será compartilhada com os assentados, muito menos haverá qualquer
processo de reforma agrária.
Contra esta política do agronegócio e da
especulação da terra na região do Apodi, o MST junto a diversos
movimentos em defesa da terra ocuparam há oito meses, com mais de 1200 famílias, a região beneficiada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), dando um recado claro aos governos e às elites que dominam o Rio Grande do Norte.
Durante todos estes meses, estes
movimentos têm pedido uma audiência com o Ministro Gilberto Carvalho –
Secretaria-Geral da Presidência da República – para conseguir debater a
situação das famílias acampadas e negociar a desapropriação para a
reforma agrária do perímetro beneficiado pela DNOCS. Esta agenda nunca
foi marcada e a farsa se transformou em tragédia.
Neste dia 6 de Maio, o Ministro da presidenta Dilma esteve no RN não para debater os problemas do nosso Estado, mas pedindo uma reunião com
os movimentos, especialmente a CUT e o MST, para conter as
manifestações durante a Copa – como vem fazendo em todas as cidades
sede.
Em vez do diálogo, a chegada do Ministro
foi anunciada com um confronto da Polícia Rodoviária Federal numa
manifestação do MST, que exigia a aceleração das desapropriações
prometidas pelo governo na região de Santa Maria.
Em outra manifestação simultânea na região do Chapada, o movimento
retira os 500 trabalhadores, com o intuito de não aumentar o
tensionamento com o governo.
É
neste contexto que no trecho entre o acampamento Edivan até Apodi, dois
homens numa moto sem placa atiraram e assassinaram os dois acampados do
movimento, com o objetivo de calar e assustar os acampados e o
movimento dos que lutam pela reforma agrária na região. Mais uma vez o
agronegócio ceifa a vida de lutadores.
Não podemos mais tolerar os dados
alarmantes da violência no campo. Não podemos mais tolerar as constantes
ameaças que jagunços armados fazem a trabalhadores desta região. Não
podemos mais tolerar que uma democracia os movimentos continuem sendo
criminalizados.
Em defesa da democracia no Campo e pela desapropriação do perímetro irrigado da Chapada do Apodi. SOMOS TODOS CIVAN E CHACAL.
*Sociólogo e Educador Popular
1Francisco Laci Gurgel Fernandes
2Francisco Alcivan Nunes de Paiva
fonte: Carta Capital
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